Tuesday, March 8, 2011

A banca e os banqueiros do nosso descontentamento

A insuspeita revista norte-americana Time publicou recentemente (31 de Janeiro) uma coluna de opinião assinada por Zachary Karabell intitulada “The Big Bad Bankers, and Their Bonuses, Are Back”. É toda ela um “hino” à capacidade de resistência, e até de reconquista de posições, que alguns julgavam irrecuperáveis após os resultados desastrosos da crise em curso, por parte dos banqueiros de Wall Street.
E quais eram os sintomas apontados por Karabell? Vertiginosa subida dos lucros, da respectiva distribuição na forma de dividendos aos accionistas e de prémios aos gestores e outros colaboradores. Subsidiariamente isso também se estaria a reflectir no discurso público alardeado por alguns corifeus do ramo que estariam a exigir não só a ser perdoados depois do respectivo acto de contrição e emenda, como a que se passe uma esponja por cima de todas as malfeitorias.
A minha vénia a Charles Ferguson, que no seu discurso de aceitação do Óscar de melhor documentário, Inside Job, teve a coragem – alguns dirão demagógica – de lamentar que nenhum dos banqueiros envolvidos na “fraude maciça”, que teria estado na origem da presente crise financeira internacional, tivesse ido parar com os costados à cadeia.
Bem sabemos que o padrão da recuperação de crises económicas passa em primeira instância pela recuperação da lucratividade das empresas, que não só das financeiras, e que bancos grandes e lucrativos de per se não são de condenar. Mas o padrão de comportamento dos banqueiros vai muito para além disso, na medida em que inclui uma atitude de conluio, ocultação e manipulação, propícias a infligir prejuízos aos seus clientes e ao público em geral.
Há alguns dias atrás assistiu-se no Hotel Ritz em Lisboa a um episódio bem representativo da extensão deste fenómeno a Portugal. Os principais executivos dos grandes bancos nacionais reclamando ora da excessiva dependência do crédito externo, ora da eminente intervenção do tandem FMI/FEEF, ora do “erro histórico” que estaria a ser cometido pelo Banco de Portugal ao exigir da banca um reforço dos seus rácios de capital e que esta se preparasse o melhor possível para fazer face a testes de resistência a que iriam ser submetidos em breve. Tudo isto, segundo um dos banqueiros discursantes, só iria resultar numa eventual fuga de depósitos e na penalização dos contribuintes. Aparentemente não lhe ocorreu que se os depositantes desertavam o seu banco seria por não se sentirem adequadamente remunerados e em segurança e de que isso dependeria muito mais dele e da sua equipa de gestão do que do canário na gaiola do regulador.
O banco público deixou-se envolver num golpe de mão sobre o maior banco privado nacional, para onde se transferiu em peso a respectiva equipa de gestão, com armas, bagagens e ordenados e prémios muito superiores aos que auferia anteriormente.
Uns exigem o aumento da taxa de poupança dos portugueses, esquecendo-se de indagar se uma das principais causas da fraca poupança dos indígenas não residirá precisamente na dita banca. Outros exigem a interdição de instrumentos financeiros, como os Credit Default Swaps, pasme-se por “falta de transparência” e por “os preços serem fixados por um clube restrito de bancos norte-americanos”! Bem prega Frei Tomás…
No caso português 1 (um!) banqueiro (com o cognome de Zeca Diabo, o que temos de convir é obra para alguém à frente duma instituição tão dependente do bom nome como um banco) foi para a prisão - ainda assim melhor do que nos EUA - embora este fosse mais o equivalente nacional do Madoff que levou com uma sentença de 150 anos, mas cadê o(s) outro(s)? Ou temos de dar razão aos que propõem a nacionalização da banca?

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