Friday, February 17, 2012

Tempo de pensar num plano C!

Penso ter chegado a altura - se é que não chegou já há algum tempo – de começar a elaborar-se um plano C para o futuro de Portugal.
Porquê plano C? Porque é tempo de sair da salgalhada em que nos metemos!
O estado actual das coisas reflectiria o desapontante resultado do plano A: democracia, descolonização e desenvolvimento no seio da CEE/CE/EU/EURO. E temos de concordar que o resultado não é brilhante. Mais duma década de estagnação económica, seguida duma recessão acompanhada duma humilhação colectiva aos pés da troica e do mundo. Eu também fui adepto da adesão à CEE, na esperança de que isso incutisse no pessoal outras maneiras: menos corrupção, menos nepotismo, menos burocracia, mais mobilidade social ascendente por mérito. Poucos destes desideratos se confirmaram e, pelo menos na última década, quase tudo tem piorado. O longo período de estagnação/regressão económica foi acompanhado de maior desigualdade regional e social (onde aparentemente já estamos no pódio mundial) e, em vez de nos dar novos métodos de trabalho e modo de vida, a UE deu-nos milhões que serviram basicamente para subornar as nossas elites e amolecer o carácter do povo. Qual ouro do Brasil, ou especiaria do oriente, ou ópio para o povo, o dinheiro serviu para nos distrair do fundamental: manter Portugal internacionalmente competitivo, permitindo que as empresas prosperassem num ambiente concorrencial, com baixa carga fiscal, i.e. garantindo-lhe os necessários recursos para fazerem face à concorrência.
O plano B seria o favorito da maioria entre nós, mas temos de constatar que as chances de que a UE se transforme numa verdadeira comunidade de estados e povos solidários entre si, cujas decisões fossem tomadas em conjunto e não por entidades tenebrosas como o/a Merkozy ou os Verdadeiros Finlandeses do nosso descontentamento. Entidades que como o Banco Central Europeu estão mandatados para cuidarem exclusivamente duma das faces da moeda, a estabilidade dos preços, mas se encontram de mãos atadas quando se constata que as taxas de desemprego alcançam com folga os dois dígitos e as economias estagnam ou mesmo regridem. Entidades que como a Comissão Europeia desapareceram em combate, ou como a banca que se preocupa mais em remunerar principescamente os seus gestores e acionistas, mas não os responsabiliza pelo crédito mal concedido ou mesmo mal intencionado. Entidades que estão a dar o seu melhor – pelo menos assim parece – para arrastarem povos inteiros pela lama, um após o outro. Primeiro será o grego, mas a bola de vez será Portugal e quem sabe quantos mais a seguir…
Chegamos assim ao plano C, induzido por um cenário que o está a impor, embora tenha sido até agora amplamente ignorado e só ventilado em surdina e nos bastidores – esperemos que alguns dos responsáveis também já o tenham pelo menos esquematizado: bancarrota ou cancelamento ordeiro da dívida externa, saída do Euro e mesmo da UE. Já anteriormente na nossa história o fizémos: urge mudar de alianças, neste caso duma aliança continental liderada pela Alemanha e as outras potências continentais europeias para uma aliança marítima com países como o Reino Unido, Irlanda, Brasil, e quiçá outros da orla marítima do velho e do novo continente, que se lhes queiram juntar.
Alguns dos elementos deste plano C incluiriam:
Choque fiscal que não houve coragem de implementar a seu tempo e está agora a ser imposto embora no sentido contrário ao necessário. O nosso tecido empresarial precisa de poder respirar para fazer face à desejada concorrência acrescida. Quer dizer que concomitantemente à descida de impostos deve ser implementada uma série de medidas que contrariem e façam recuar substancialmente os interesses monopolistas e corporativos instalados.
Adopção de moeda própria (volta escudo que estás perdoado!) de modo a poder voltar a aplicar as vantagens comparativas, já que absolutas não conseguimos impor quase nenhumas nos anos da moeda partilhada, desvalorizando quando estritamente necessário ao equilíbrio no longo prazo das nossas contas externas em vez de comprimir violentamente os custos salariais e afins como estamos condenados a fazer presentemente. Estaremos finalmente a viver de acordo com as nossas possibilidades, sem acesso aos mercados financeiros internacionais, mas isso também já Portugal teve de aguentar durante muitas décadas antes de salvo erro nos anos sessenta regressar a eles por mérito próprio.
Manutenção do sistema democrático, mas profundamente remodelado de modo a poder quebrar a espinha aos actuais aparelhos partidários, responsabilizar individualmente os eleitos perante os eleitores, desburocratizar e tornar muito mais transparente o aparelho do estado perante os cidadãos.
Os políticos actualmente no arco do poder podem fazer-nos correr o risco de perder esta dádiva tão apreciada pela maioria de nós, a democracia, caso se continuem a recusar encarar olhos nos olhos as circunstâncias que a meu ver impõem este plano C, porque se não forem eles a concebê-lo e implementá-lo, muitos outros menos ou nada democratas se encarregarão de o fazer - e talvez mais cedo do que se imagine!